quinta-feira, 11 de julho de 2013

Bakhtin, M. Estética da criaçáo verbal. 4» Ed. Sáo Paulo: Ed. Martins fontes, 2003 (Pag 261 à 306)

Bakhtin, M. Estética da cria;áo verbal. 4» Ed. Sáo Paulo: Ed. Martins fontes, 2003 (Pag 261 à 306)

No prefácio do livro “Estética da Criação Verbal, Tzvetan Todorov diz que Mikhail Bakhtin (1895- 1975) foi uma das personalidades mais fascinantes e enigmáticas da cultura européia de meados do século XX. Em seus escritos rompe com a concepção de homem que adquire urna linguagem ideal. pronta e acabada, e com a dicotornia que toma a linguagem como forma e conteúdo.
Na Estética da Criação Verbal, Bakhtin aborda a questão dos gêneros do discurso. Para ele: é preciso conhecer e dominar os diversos tipos de gêneros para que a comunicação verba escrita se estabeleça de forma coerente e eficaz.
A palavra, assim como a oração, segundo Bakhtin, não requer ato comunicativo, não provoca urna atitude de resposta por parte do outro, pode ser retirada do contexto, possui uma conclusibilidade abstrata e, por isso, pode não ser precisa: carece de qualquer relação com o enunciado do outro, com a palavra do outro. A oração isolada, tirada de seu contexto, encobre os indícios que revelariam seu caráter de dirigir-se a alguém. a influência da resposta pressuposta, a ressonância diaiógica que remete aos enunciados anteriores do outro, as marcas atenuadas da alternância dos sujeitos falantes, etc.
Tanto a palavra como a oração não têm autoria e só do momento em que se tornam enunciados, em
uma situação discursiva, é que passam a representar a intenção do falante. Exemplificando: quando olhamos
desenho mostrado por alguém e dizemos:  - “lindo”,estamos dotando a palavra de sentido, e provocando no outro uma atitude. Aqui a palavra é um enunciado concreto.
Bakhtin vai além, dizendo que de acordo com o genero discursivo utilizado é que as palavras
são escolhidas e incorporam-se ao mesmo. Por exemplo: Neste momento, qualquer alegria é
a mura para mim”. Sendo interpretada pelo  contexto discursivo, através do gênero, a palavra “alegria” remete à tristeza. Já tomada isoladamente, descontextulizada, “alegria” remeteria à felicidade.
Para o autor, ao contrário do enunciado, palavra e oração. são desprovidas de “endereçamento”; não são ditas para alguém, não pertencem e nem se referem a ninguém, carecem de qualquer tipo de relação com o dizer do outro.
Para uma compreensão mais precisa acerca da natureza das unidades da língua enquanto sistema, Bakhtin acredita ser necessário o estudo do enunciado como unidade real de comunicação discursiva. Para ele existe uma interatividade entre sujeitos falantes. O receptor não é um ser passivo, ao contrário, ao ouvir e compreender um enunciado pode atuar de forma ativa no ato enunciativo (concordar ou não, completar, discutir, ampliar, direcionar, etc), sendo que esta atitude é a principal característica do enunciado.
Ele define o enunciado como sendo único, um elo na corrente complexamente organizada de outros enunciados, onde os limites de cada um como unidade de comunicação discursiva são definidos pela alternância de sujeitos do discurso (falantes). Assim, o escritor, ao construir o seu enunciado, deve defini- lo de maneira ativa, antecipando a percepção deste enunciado pelo destinatário, isto é, o seu conhecimento da situação e do campo cultural da comunicação, suas antipatias, simpatias e convicções.
Para ele o estilo do discurso é definido a partir de concepções que o locutor tem a respeito do destinatário. Assim, alguns aspectos são considerados na elaboração do enunciado, como as convicções. os preconceitos do destinatário, seu grau de letramento, seu conhecimento do assunto tratado, suas simpatias e antipatias.
Estes fatores irão determinar a escolha do gênero mais adequado à situação comunicativa em questão. Desta forma, todo enunciado é produzido para alguém com intenções pré-definidas.
Para Bakbtin, todas as esferas da atividade humana estão indiscutivelmente ligadas à utilização da língua, que se realiza por meio de enunciados orais e escritos, os quais refletem as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, tanto por seu conteúdo, como, principalmente, por sua construção composicional. Estes três elementos - conteúdo temático (assunto), construçãocomposicional(estrutura formal) e estilo (utilização da língua: considera a forma individual de escrever, escolha vocabular, composição frasal e gramatical) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação, especialmente em virtude de sua construção composicional. Cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciadas: é o que o autor denomina de Gêneros do discurso.
Segundo Bakhtin, há uma variedade muito grande de gêneros do discurso, que correspondem à diversidade inesgotável das atividades humanas que se amplia à medida que as atividades se desenvolvem. A heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais e escritos) compreende, dentre outros, a curta réplica do diálogo cotidiano, o relato familiar, a carta, os documentos oficiais e seu repertório bastante diversificado, as declarações públicas, as exposições científicas e literárias, etc. Cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai distinguindo-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa.
Em virtude de toda essa diversidade, ele propõe uma distinção essencial entre dois tipos de gêneros discursivos: o primário (simples), resultado de uma comunicação verbal espontânea, faz parte da vida cotidiana da linguagem (bilhetes, cartas, relatos familiares, etc.), e o secundário (cómplexo), refere- se a textos normalmente mediados pela escrita que fazem parte de um uso mais oficializado da linguagem, ou seja, fruto de uma comunicação cultural mais complexa e evoluída (o romance, o teatro, o discurso científico e ideológico, etc.), por essa razão não possuem o imediatismo do gênero primário.
Assim, os gêneros secundários são formados a partir da reelaboração dos primários, ou seja, os gêneros secundários absorvem os gêneros primários, fazendo-os perder sua relação imediata com a realidade existente. Exemplificando: a simulação de um diálogo (gênero primário) dentro de um romance (gênero secundário), passa a significar um efeito de sentido de verdade construído pelo enunciador para persuadir o seu enunciatário, perdendo sua relação com a realidade em si, isto é. só se integram à realidade existente através do romance, considerado como um todo concebido como fenômeno da vida literário-artística e não da vida cotidiana.
A distinção entre gêneros primários e secundários tem grande importância teórica, sendo esta a razão pela qual a natureza do enunciado deve ser elucidada e definida por uma análise de ambos os gêneros.
No ato de falar, utilizamo-nos dos gêneros do discurso e todos nossos enunciados dispõem de uma forma padrão. Possuímos um rico repertório dos gêneros do discurso oral (e escrito). Na conversa mais desenvolta, adaptamos nossa fala às formas precisas de gêneros, às vezes padronizados e estereotipados, às vezes mais maleáveis, mais plásticas e mais criativas.
Esses gêneros do discurso têm a mesma fundamentação da língua materna, que facilmente dominamos sua estrutura muito antes de entendermos seus fundamentos teóricos
Aprender a falar é aprender a estruturar enunciados, pois falamos por enunciados e não por orações isoladas (ou por palavras isoladas). As formas da língua e as formas típicas de enunciados, ou seja, os gêneros do discurso introduzem-se em nossa experiência e em nossa consciência conjuntamente e sem que sua estreita correlação seja rompida. A língua penetra na vida através dos enunciados concretos que a realizam, e é também através dos enunciados concretos, que a vida penetra na língua.
Os gêneros do discurso organizam nossa fala da mesma maneira que a organizam as formas gramaticais (sintáticas). Aprendemos a moldar nossa fala às formas do gênero e, ao ouvir a fala do outro, sabemos de imediato, o gênero, adivinhamos o volume (a extensão aproximada do todo discursivo), a estrutura composicional. ou seja, desde o início somos sensíveis ao todo discursivo que, em seguida, no processo da fala, evidenciará suas diferenciações. Se não existissem os gêneros do discurso a comunicação verbal seria quase impossível.
Portanto, o locutor recebe, além das formas prescritivas da língua comum (os componentes e as estruturas gramaticais), as formas não menos prescritivas do enunciado, ou seja, os gêneros do discurso, que são tão indispensáveis quanto à formas da língua para um entendimento recíproco entre locutores.
Os gêneros do discurso são, em comparação com mas da língua, muito mais fáceis de combinar
zis ágeis.
Bakhtin entende que a linguagem é, por si só, dialógica, ou seja, um discurso não se constrói sobre mesmo, mas pressupõe sempre um outro. Para ele, o dialogismo é um princípio constitutivo da linguagem, resultado de uma interação verbal que se estabelece entre o enunciador, cumprindo o papel de destinador, e enunciatário que, por sua vez, desempenha o papel de destinatário do enunciado.
Para falar, o sujeito sempre faz opção por um determinado gênero. Essa opção é determinada em função da comunicação verbal que se pretende estabelecer, levando-se sempre em consideração o intuito discursivo e a constituição dos parceiros.
Na vida prática, normalmente usamos os gêneros do discurso com habilidade e segurança, ignorando muitas vezes sua teoria. A nossa fala é sempre moldada às formas do gênero. Porém, muitas pessoas que apresentam um conhecimento incontestável em relação a urna determinada língua sentem-se pouco competentes em algumas situações por não dominarem os gêneros de dadas esferas.
Para o autor, é a própria vivência em situações comunicativas e o contato com os diferentes gêneros do discurso que exercitam a competência lingüística do produtor de enunciados. É esta competência dos interlocutores que auxilia no que é ou no aceitável em determinada prática social. Quanto mais experiente for o sujeito, mais hábil será na diferenciação dos gêneros e no reconhecimento do sentido e da estrutura que o compõe .

TESTE

1) Segundo Bakhtin:
        I.            É preciso conhecer e dominar os diversos 1oos de gêneros para que a comunicação verha/escrita se estabeleça deforma coerente e eficaz.
     II.            A palavra, assim como a oração, não requer ato comunicativo, não provoca uma atitude de resposta por parte do outro, pode ser retirada do contexto, possui uma conclusibilidade abstrata e, por isso, pode não ser precisa: carece de qualquer relação com o enunciado do outro, com a palavra do outro.
   III.            A oração isolada, tirada de seu contexto, encohre se os indícios que revelariam seu caráter de dirigir se a alguém, a influência da resposta pressuposta. a rtssonância dialógica que remete aos enunríni]o anteriores do .mtro, as marcas atenuadas da ‘/teiiiância dos sujeitos falantes, etc. Tudo isso, sendo alheio à natureza da oração como unidade da língua, perde-se e apaga-se.

a)      apenas as alternativa I e II estão corretas,
b)      apenas as alternativas 1 e III estão corretas:
c)      apenas as alternativas II e III estão corretas;
d)      todas as alternativas estão corretas.

2) Para Bakhtin, todas as esferas da atividade humana estão indiscutivelmente ligadas à utilização da língua,  que se realiza por meio de enunciados orais e escritos, os quais refletem as condições específicas e as finalidades de cada urna dessas esferas, tanto por seu conteúdo, como, principalmente, por sua construção composicional Cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados:
a)      é o que o autor denomina de enunciado;
b)      é o que o autor denomina de gêneros do discurso.
c)       é o que o autor denomina de palavra contextualizada
d)       é o que o autor denomina de gêneros literários.


3) Bakhlin propõe uma distinção essencial entre dois tipos de géneros discursivos:
a)      o primário (simples) e o secundário (complexo).
b)      o primeiro é fruto de uma comunicação verbal espontânea
c)      o segundo ,‘esulta de uma comunicação cultural mais complexa e evoluída,
d)        todas as alternativas são complementares e se completam

4) Bakhtin entende que a linguagem é, por si só, dialógica, ou seja, um discurso não se constrói sobre si mesmo, mas pressupõe sempre um outro. Para ele, o dialogismo é:
       I.            um princípio constitutivo da linguagem;
    II.            resultado de união interação verbal que se estabelece entre o enunciador; cumprindo o papel de destino e o enunciatário que, por sua vez, desempenha o papel de destinatário do enunciado.
 III.            a adaptação de nossa fala às fármas precisas de gêneros, às vezes padronizados e estereotipados, às vezes mais maleáveis, mais plásticas e mais criativas.
a)      apenas as alternativa 1 e 11 estão corretas,
b)      apenas as alternativas 1 e III estão corretas;
c)      apenas as alternativas Ii e JJJ estão corretas;
d)     todas as alternativas estão corretas.

GABARITO
1)D
2) B
3) D

4) A

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