Bakhtin, M. Estética da cria;áo
verbal. 4» Ed. Sáo Paulo: Ed. Martins fontes, 2003 (Pag 261 à 306)
No prefácio do livro “Estética
da Criação Verbal, Tzvetan Todorov diz que Mikhail Bakhtin (1895- 1975) foi
uma das personalidades mais fascinantes e enigmáticas da cultura européia de
meados do século XX. Em seus escritos rompe com a concepção de homem que
adquire urna linguagem ideal. pronta e acabada, e com a dicotornia que toma a
linguagem como forma e conteúdo.
Na Estética da Criação Verbal,
Bakhtin aborda a questão dos gêneros do discurso. Para ele: é preciso conhecer
e dominar os diversos tipos de gêneros para que a comunicação verba escrita se
estabeleça de forma coerente e eficaz.
A palavra, assim como a
oração, segundo Bakhtin, não requer ato comunicativo, não provoca urna atitude
de resposta por parte do outro, pode ser retirada do contexto, possui uma
conclusibilidade abstrata e, por isso, pode não ser precisa: carece de qualquer
relação com o enunciado do outro, com a palavra do outro. A oração isolada,
tirada de seu contexto, encobre os indícios que revelariam seu caráter de
dirigir-se a alguém. a influência da resposta pressuposta, a ressonância
diaiógica que remete aos enunciados anteriores do outro, as marcas atenuadas da
alternância dos sujeitos falantes, etc.
Tanto a palavra como a oração
não têm autoria e só do momento em que se tornam enunciados, em
uma situação discursiva, é que passam a representar a intenção do falante. Exemplificando: quando olhamos
desenho mostrado por alguém e dizemos: - “lindo”,estamos dotando a palavra de sentido, e provocando no outro uma atitude. Aqui a palavra é um enunciado concreto.
uma situação discursiva, é que passam a representar a intenção do falante. Exemplificando: quando olhamos
desenho mostrado por alguém e dizemos: - “lindo”,estamos dotando a palavra de sentido, e provocando no outro uma atitude. Aqui a palavra é um enunciado concreto.
Bakhtin vai além, dizendo que
de acordo com o genero discursivo utilizado é que as palavras
são escolhidas e incorporam-se ao mesmo. Por exemplo: Neste momento, qualquer alegria é
a mura para mim”. Sendo interpretada pelo contexto discursivo, através do gênero, a palavra “alegria” remete à tristeza. Já tomada isoladamente, descontextulizada, “alegria” remeteria à felicidade.
são escolhidas e incorporam-se ao mesmo. Por exemplo: Neste momento, qualquer alegria é
a mura para mim”. Sendo interpretada pelo contexto discursivo, através do gênero, a palavra “alegria” remete à tristeza. Já tomada isoladamente, descontextulizada, “alegria” remeteria à felicidade.
Para o autor, ao contrário do
enunciado, palavra e oração. são desprovidas de “endereçamento”; não são ditas
para alguém, não pertencem e nem se referem a ninguém, carecem de qualquer tipo
de relação com o dizer do outro.
Para uma compreensão mais
precisa acerca da natureza das unidades da língua enquanto sistema, Bakhtin
acredita ser necessário o estudo do enunciado como unidade real de comunicação
discursiva. Para ele existe uma interatividade entre sujeitos falantes. O
receptor não é um ser passivo, ao contrário, ao ouvir e compreender um
enunciado pode atuar de forma ativa no ato enunciativo (concordar ou não,
completar, discutir, ampliar, direcionar, etc), sendo que esta atitude é a
principal característica do enunciado.
Ele define o enunciado como sendo único, um elo na corrente complexamente organizada de outros enunciados, onde
os limites de cada um como unidade de comunicação discursiva são definidos pela
alternância de sujeitos do discurso (falantes). Assim, o escritor, ao construir
o seu enunciado, deve defini- lo de maneira ativa, antecipando a percepção
deste enunciado pelo destinatário, isto é, o seu conhecimento da situação e do
campo cultural da comunicação, suas antipatias, simpatias e convicções.
Para ele o estilo do
discurso é definido a partir de concepções que o locutor tem a respeito do
destinatário. Assim, alguns aspectos são considerados na elaboração do
enunciado, como as convicções. os preconceitos do destinatário, seu grau de
letramento, seu conhecimento do assunto tratado, suas simpatias e antipatias.
Estes fatores irão determinar
a escolha do gênero mais adequado à situação comunicativa em questão. Desta
forma, todo enunciado é produzido para
alguém com intenções pré-definidas.
Para Bakbtin, todas as esferas da atividade humana estão indiscutivelmente ligadas à utilização da língua,
que se realiza por meio de enunciados orais
e escritos,
os quais refletem as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas
esferas, tanto por seu conteúdo, como, principalmente, por sua construção
composicional. Estes três elementos - conteúdo temático
(assunto), construçãocomposicional(estrutura formal) e estilo (utilização da língua: considera a forma individual de
escrever, escolha vocabular, composição frasal e gramatical)
fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e são marcados pela
especificidade de uma esfera de comunicação, especialmente em virtude de sua
construção composicional. Cada esfera de utilização da
língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciadas: é o que o autor
denomina de Gêneros do discurso.
Segundo Bakhtin, há uma
variedade muito grande de gêneros do discurso, que correspondem à diversidade
inesgotável das atividades humanas que se amplia à medida que as atividades se
desenvolvem. A heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais e escritos)
compreende, dentre outros, a curta réplica do diálogo cotidiano, o relato
familiar, a carta, os documentos oficiais e seu repertório bastante
diversificado, as declarações públicas, as exposições científicas e literárias,
etc. Cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso
que vai distinguindo-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se
desenvolve e fica mais complexa.
Em virtude de toda essa
diversidade, ele propõe uma distinção essencial entre dois tipos de gêneros discursivos: o primário
(simples), resultado de uma comunicação verbal
espontânea, faz parte da vida cotidiana da linguagem (bilhetes, cartas, relatos
familiares, etc.), e o secundário (cómplexo), refere- se a textos normalmente
mediados pela escrita que fazem parte de um uso mais oficializado da linguagem,
ou seja, fruto de uma comunicação cultural mais complexa e evoluída (o romance,
o teatro, o discurso científico e ideológico, etc.), por essa razão não possuem
o imediatismo do gênero primário.
Assim, os gêneros secundários são formados a partir da reelaboração dos primários,
ou seja, os gêneros secundários absorvem os gêneros primários, fazendo-os
perder sua relação imediata com a realidade existente. Exemplificando: a
simulação de um diálogo (gênero primário) dentro de um romance (gênero
secundário), passa a significar um efeito de sentido de verdade construído pelo
enunciador para persuadir o seu enunciatário, perdendo sua relação com a
realidade em si, isto é. só se integram à realidade existente através do
romance, considerado como um todo concebido como fenômeno da vida
literário-artística e não da vida cotidiana.
A distinção entre gêneros
primários e secundários tem grande importância teórica, sendo esta a razão pela
qual a natureza do enunciado deve ser elucidada e definida por uma análise de
ambos os gêneros.
No ato de falar, utilizamo-nos
dos gêneros do discurso e todos nossos enunciados dispõem de uma forma padrão.
Possuímos um rico repertório dos gêneros do discurso oral (e escrito). Na
conversa mais desenvolta, adaptamos nossa fala às formas precisas de gêneros,
às vezes padronizados e estereotipados, às vezes mais maleáveis, mais plásticas
e mais criativas.
Esses gêneros do discurso têm
a mesma fundamentação da língua materna, que facilmente dominamos sua estrutura
muito antes de entendermos seus fundamentos teóricos
Aprender a falar é aprender a estruturar enunciados, pois falamos por enunciados
e não por orações isoladas (ou por palavras isoladas). As formas da língua e as
formas típicas de enunciados, ou seja, os gêneros do discurso introduzem-se em
nossa experiência e em nossa consciência conjuntamente e sem que sua estreita
correlação seja rompida. A língua penetra na vida através dos enunciados concretos
que a realizam, e é também através dos enunciados concretos, que a vida penetra
na língua.
Os gêneros do discurso
organizam nossa fala da mesma maneira que a organizam as formas gramaticais
(sintáticas). Aprendemos a moldar nossa fala às formas do gênero e, ao ouvir a
fala do outro, sabemos de imediato, o gênero, adivinhamos o volume (a extensão
aproximada do todo discursivo), a estrutura composicional. ou seja, desde o
início somos sensíveis ao todo discursivo que, em seguida, no processo da fala,
evidenciará suas diferenciações. Se não existissem os gêneros do discurso a
comunicação verbal seria quase impossível.
Portanto, o locutor recebe,
além das formas prescritivas da língua comum (os componentes e as estruturas
gramaticais), as formas não menos prescritivas do enunciado, ou seja, os
gêneros do discurso, que são tão indispensáveis quanto à formas da língua para
um entendimento recíproco entre locutores.
Os gêneros do discurso são, em
comparação com mas da língua, muito mais fáceis de combinar
zis ágeis.
zis ágeis.
Bakhtin entende que a
linguagem é, por si só, dialógica, ou seja, um discurso não se constrói sobre
mesmo, mas pressupõe sempre um outro. Para ele, o dialogismo é um princípio
constitutivo da linguagem, resultado de uma interação verbal que se estabelece
entre o enunciador, cumprindo o papel de destinador, e enunciatário que, por
sua vez, desempenha o papel de destinatário do enunciado.
Para falar, o sujeito sempre faz
opção por um determinado gênero. Essa opção é determinada em função da
comunicação verbal que se pretende estabelecer, levando-se sempre em
consideração o intuito discursivo e a constituição dos parceiros.
Na vida prática, normalmente
usamos os gêneros do discurso com habilidade e segurança, ignorando muitas
vezes sua teoria. A nossa fala é sempre moldada às formas do gênero. Porém,
muitas pessoas que apresentam um conhecimento incontestável em relação a urna
determinada língua sentem-se pouco competentes em algumas situações por não
dominarem os gêneros de dadas esferas.
Para o autor, é a própria vivência em situações
comunicativas e o contato com os diferentes gêneros do discurso que exercitam a
competência lingüística do produtor de enunciados. É esta competência dos
interlocutores que auxilia no que é ou no aceitável em determinada prática
social. Quanto mais experiente for o sujeito, mais hábil será na diferenciação dos gêneros e no reconhecimento do sentido e da
estrutura que o compõe .
TESTE
1) Segundo Bakhtin:
I.
É preciso conhecer e dominar os diversos 1oos de gêneros
para que a comunicação verha/escrita se estabeleça deforma coerente e eficaz.
II.
A palavra, assim como a oração, não requer ato
comunicativo, não provoca uma atitude de resposta por parte do outro, pode ser
retirada do contexto, possui uma conclusibilidade abstrata e, por isso, pode
não ser precisa: carece de qualquer relação com o enunciado do outro, com a
palavra do outro.
III.
A oração isolada, tirada de seu contexto, encohre se os
indícios que revelariam seu caráter de dirigir se a alguém, a influência da
resposta pressuposta. a rtssonância dialógica que remete aos enunríni]o
anteriores do .mtro, as marcas atenuadas da ‘/teiiiância dos sujeitos falantes,
etc. Tudo isso, sendo alheio à natureza da oração como unidade da língua,
perde-se e apaga-se.
a) apenas as alternativa I e II
estão corretas,
b) apenas as alternativas 1 e III
estão corretas:
c) apenas as alternativas II e
III estão corretas;
d) todas as alternativas estão
corretas.
2) Para Bakhtin,
todas as esferas da atividade humana estão indiscutivelmente ligadas à utilização da língua, que se
realiza por meio de enunciados orais e escritos, os quais refletem as condições específicas e as finalidades
de cada urna dessas esferas, tanto
por seu conteúdo, como, principalmente, por sua construção composicional
Cada esfera de utilização da
língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados:
a) é o que o autor denomina de
enunciado;
b) é o que o autor denomina de
gêneros do discurso.
c) é o que o autor denomina de palavra
contextualizada
d) é o que o autor denomina de gêneros
literários.
3) Bakhlin propõe uma
distinção essencial entre dois tipos de géneros discursivos:
a) o primário (simples) e o
secundário (complexo).
b) o primeiro é fruto de uma comunicação
verbal espontânea
c) o segundo ,‘esulta de uma
comunicação cultural mais complexa e evoluída,
d) todas
as alternativas são complementares e se completam
4) Bakhtin entende que a
linguagem é, por si só, dialógica, ou seja, um discurso não se constrói sobre si mesmo, mas pressupõe
sempre um outro. Para ele, o dialogismo é:
I.
um princípio constitutivo da linguagem;
II.
resultado de união interação verbal que se estabelece entre o enunciador;
cumprindo o papel de destino e o enunciatário que, por sua vez, desempenha o
papel de destinatário do enunciado.
III.
a adaptação de nossa fala às fármas precisas de gêneros, às vezes
padronizados e estereotipados, às vezes mais maleáveis, mais plásticas e mais
criativas.
a) apenas as alternativa 1 e 11
estão corretas,
b) apenas as alternativas 1 e III
estão corretas;
c) apenas as alternativas Ii e
JJJ estão corretas;
d) todas as alternativas estão
corretas.
GABARITO
1)D
2) B
1)D
2) B
3) D
4) A
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